Mensagens Contemporâneas Da Própria Grande Tradição

por Padre Peter da Comunidade dos Servos da Vontade de Deus

Padre Peter é um membro de uma pequena comunidade de monges Anglicanos que vivem em Crawley, UK, cujas origens remontam a 1938. A comunidade sempre teve a Unidade Cristã como um foco primário.

Mensagens da Tradição

À medida que comecei a ler estas Conversas com Jesus, minha primeira reação foi de alívio. Elas não continham expressões exageradas ou insólitas à Fé Cristã, como podem acontecer algumas vezes com este tipo de literatura visionária. De fato, em seu conteúdo, elas pareciam estar muito centradas, mesmo ortodoxas. Foi à medida que a leitura progredia que a mudança ocorreu: eu ficava encontrando palavras como “metanoia“, “arrependimento”, “crescer em santidade”, “amor”, “alegria”, “paz”, “perdão”, “reconciliação”, “oração constante”, “a Santíssima Trindade”, “o Espírito Santo”, “abandono”. As Bem-Aventuranças são evocadas, bem como a necessidade urgente de oração tendo em vista a vinda iminente do Senhor. E tudo culmina num chamado à Unidade e uma data comum para a Páscoa: “Ortodoxos! Católicos! Protestantes! Vós pertenceis-Me todos! Vós sois Um aos Meus Olhos”(27 de outubro de 1997), “Dobrai-vos, para poderdes (…) unir-vos.”(21 de junho de 1988), “Uni por Meu Amor, A Festa da Páscoa” (14 de outubro de 1991). Encontrei orações e cânticos de amor que ecoaram para mim o bíblico Cântico dos Cânticos, e os hinos de São Simeão o Novo Teólogo. Parte das mensagens ecoa os profetas Hebreus (Ezequiel, Oséias, Amós) e a pessoa obtém um senso intuitivo de como as palavras deles mesmos foram dadas e escritas. Outras partes manifestam uma ressonância impressionante com a Tradição no seu caráter profético e no poema de amor místico exaltado e nupcial: de São Simeão, o Novo Teólogo do Oriente, e de Santa Catarina de Siena no Ocidente. Conclui que essa não era uma expressão marginal de fé: isso era tudo o que fui ensinado como monge. Isso era a Própria Grande Tradição e tudo isso encapsulado nessas Mensagens do Próprio Senhor. Se antes havia algum traço de incerteza, a partir desse momento ela desapareceu, e eu nunca olhei para trás.

É o Senhor

Como você sabe que essas mensagens são de Deus? Quando você as lê, você ficará convencido: elas são neste sentido, autenticadas nelas mesmas. A confirmação pessoal veio a mim inesperadamente cedo assim, seguindo o conselho recebido de começar pelo começo. Comecei a ler o Volume 1. Descobri, na página 8 um relato do próprio Senhor sobre a sua Paixão. Pensei, enquanto o lia, e não era fácil ler: a própria Vassula relata como foi difícil para ela tomar o ditado – nenhum ser humano, mesmo que inspirado poderia ter escrito isso imaginativamente. Isso vem de dentro, da consciência. Daquele que passou de fato por isso. Outra vez, uma manhã enquanto estava preparando a leitura do Evangelho para as Laudes – era do Evangelho de São João- algo me atingiu subitamente com muita força. Dei-me conta de que a Pessoa de quem eu tomava consciência lendo atentamente aquelas palavras era exatamente a mesma Pessoa de quem eu tomava consciência lendo essas mensagens. Me descobri respondendo nas palavras do Apóstolo João no Mar de Tiberíades: “É o Senhor” (Jo 21, 7).

Qual é o conteúdo das mensagens?

A descrição das mensagens pela própria Vassula é uma “re-escrita do Evangelho” (Conferência de Brighton, outubro de 2003), que é, uma afirmação revigorada do Evangelho. Oque você encontrará é o mesmo Evangelho que você ouve em Mateus, Marcos, Lucas e João, mas com uma urgência e um toque contemporâneos. É o Senhor falando para nós agora em 2004, com todo o etos e ambiente do nosso mundo e cultura modernos. É o que a Igreja quer dizer por Tradição: O Espírito Santo falando diretamente para cada era e cultura através de instrumentos escolhidos bem como a autoridade de ensino da própria Igreja. É o próprio Evangelho original que é destrinchado, explicitado e esclarecido. São João da Cruz uma vez escreveu que Deus falou conosco em seu Filho e tendo assim falado, não tinha nada mais a dizer. Então não há questão de algo novo e, ainda menos, inovador. As mensagens então são uma recapitulação: “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse.” (Jo 14, 26)

Um dom para toda a Igreja

O carisma de Vassula é um dom (do grego charis) de Deus para toda a Igreja, se formos suficientemente humildes para recebê-lo de Deus. Com os dons de Deus Vêm também um teste e um desafio. Primeiro haverá uma real tentação de duvidar. Nós teremos que ir ao encontro dessa dúvida dentro de nós mesmos e também em resposta a outros, mesmo aqueles superiores a nós no Senhor. Alguns serão movidos para encorajar, mas de outros pode haver simplesmente o silêncio, uma ausência de resposta. Contudo, as mensagens não são para uns poucos indivíduos (” se você gosta desse tipo de coisas”), não para uma parte particular da Igreja, que se desviaria de seu verdadeiro propósito. O Senhor é bem claro que as mensagens são para todo mundo, todos os Cristãos, mesmo para todo ser humano. Uma resposta fiel de nossa parte é a garantia de que aquilo a que o Senhor objetivava ao dá-las frutificará. Para todas as dúvidas que venham à nossa mente ou que nos sejam propostas, nossa questão necessitará ser: “Este pensamento está vindo a mim da Própria Verdade, ou é algo da minha velha natureza, procurando uma forma de evitar tal desafio?” Há o perigo sempre presente, especialmente para nossa era, de racionalizar o evento. O Senhor tem muito a dizer concernente ao Racionalismo de nossa era.

Uma contestação à insinceridade

Adicionalmente, pode-se compreender que isso apresenta uma palavra desafiadora para a Igreja, não completamente diferente daquela apresentada às Sete Igrejas por São João em seu Apocalipse (Ap 2 e 3). Como lá, o Senhor está chamando sua Igreja à purificação – “Quero que vivais santamente, porque Eu sou Santo” – então poderá ser como a igreja apostólica primitiva: “Quero revestir-vos a todos com as Minhas Vestes do passado e reconstruir a Minha Igreja nas suas fundações primitivas”. Há uma contínua contestação a toda insinceridade na Igreja, de tal forma que possa tornar-se mais verdadeiramente servidora do mundo, proclamar o Evangelho autêntico, e ministrar cura e salvação para as verdadeiras doenças do mundo. Não é confortável ler algumas vezes. “Diz ao Meu Povo que Eu não quero administradores na Minha Casa; no Meu Dia, eles não serão justificados, porque foram eles, justamente, que industrializaram a Minha Casa.” O Senhor está profundamente preocupado com aqueles “que buscam cátedras e autoridade, mais do que a salvação das almas” e todos os “mercadores” (cf. Mt 21,12-13 e paralelos).

Instituição e carisma

Para a Igreja, recepção dessas mensagens apresenta o velho problema da tensão entre a instituição e o carisma de seus membros. São Paulo roga aos seus companheiros Cristãos: “Não extingais o Espírito” (1 Ts 5, 19). Ele também exorta os Coríntios: “Aspirai o dom da profecia” (1 Cor 14,39). A função profética é considerada a segunda apenas comparada àquela do apóstolo: ” E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas…” (1 Cor 12, 28). “E ele é que “concedeu” a uns ser apóstolos, a outros profetas…” (Ef 4, 11). A função profética não tem sido prontamente reconhecida e nem aceita pela Igreja, da mesma forma que certamente o Israel antigo tinha dificuldade em aceitar esses servos escolhidos com sua mensagem, enviadas para eles por Deus. Aqueles responsáveis pela instituição preocupam-se em manter uma ordem apropriada, mesmo se há a necessidade de receber o desafio da palavra profética e aceitá-la. Isso deve acontecer se um caminho adiante deve ser encontrado através do diálogo e crescimento no amor. Não é o amor afinal o coração do Evangelho (1Cor 13)? “(…). Que o Amor esteja sempre presente, em todas as vossas ações. (…)O vosso amor não deverá ser apenas de palavras ou de simples discursos, mas algo de real e ativo.” (29.11.1989). A questão permanece se o desafio pode ser encontrado, de tal forma que o carisma não seja mantido sob os lençóis por medo das consequências.

Conforto e força do céu

Essas mensagens serão um fortalecimento para todos que se perguntaram como Deus está vendo conflitos recentes na Igreja, e no mundo contemporâneo. Porque é este mesmo mundo de guerras, fome, opressão, aborto, e desequilíbrio ecológico que encontramos nessas mensagens. O mesmo Senhor que falou primeiro aos Hebreus e proclamou seu Evangelho para toda a raça humana através de seu Filho, fala conosco com exatamente a mesma urgência, compaixão, exame profundo. “falta o amor entre vocês”. “que o Amor seja o Princípio da vossa vida; que o Amor seja a vossa Raiz. Tende consciência dos vossos pensamentos; não vos julgueis uns aos outros(…)” As mensagens, como seu “original” o Evangelho, nos confrontam com o único desafio da fé Cristã. É o desafio de “ouvir a palavra (desejo) de Deus e cumpri-la.” ” Viver as mensagens” é um refrão contínuo dito pela Mãe de Deus. O chamado é aquele do nosso chamado batismal comum, de crescer em santidade e todos os seus elementos correspondentes: perdão, reconciliação, paz, humildade, oração contínua, aquelas disposições (pobreza de espírito, mansidão, misericórdia, pureza de coração) que o Senhor pede de nós para recebermos as bênçãos (Bem-Aventuranças) que ele deseja para nós. É um convite para cada um de nós, para nos tornarmos o homem ou mulher em Cristo que fomos batizados para nos tornarmos: uma pessoa unida com o Corpo de Cristo, a igreja local à qual pertence. Isso e nada menos representa a concretização e cumprimento dessa “revelação” de Deus.

Padre Peter CSWG