Bispo João Evangelista Martins Terra S.J.

A mensagem de “A Verdadeira Vida em Deus” e o Papa Francisco

Na minha opinião, o grande carisma teológico que Vassula possui é o de preparar o diálogo, ou o encontro de Cristo com toda a humanidade que, em todas as regiões da terra, está sinceramente à procura de Deus. Jesus compara o Reino de Deus a um homem que passa pela vida à procura de uma pérola preciosa (Mt 13, 45).

O Papa Francisco na Encíclica sobre a fé, “Lumen Fidei”, afirma que “a pessoa religiosa é aquela que procura conhecer Deus nas experiências quotidianas da vida (LF 35). Uma imagem desta procura são os Reis Magos vindos do Oriente, conduzidos pela estrela até à manjedoura de Belém (Mt 2,1-12). A luz de Deus manifesta-se a eles como o caminho, como uma estrela que os guia ao longo do caminho ainda por descobrir… Por isso, ao encontrar-se no caminho, o religioso deve estar disposto a deixar-se conduzir, a renunciar a si mesmo para encontrar Deus que não pára de nos surpreender. “A confissão de Jesus, como único Salvador, afirma que a Luz de Deus se concentrou n’Ele, na sua “vida luminosa”, pela qual Ele revela a origem e a consumação da História” (LF #35). Não há experiência humana, não há itinerário humano para Deus que não possa ser abraçado, iluminado e purificado por esta luz. Quanto mais penetrares neste círculo aberto guiado pela Luz de Cristo, mais ainda se poderá compreender e acompanhar o caminho de cada pessoa que conduz a Deus (LF #35).

O enfoque da Encíclica do Papa Francisco, que fala do valor da busca de Deus nas religiões e da polarização em Cristo, o único Salvador, está em total sintonia com os escritos de “A Verdadeira Vida em Deus”.

Todos os esforços de Vassula para encorajar o diálogo de fé entre as diversas cristandades adquiriram agora um apoio definitivo dos ensinamentos da Encíclica “Lumen Fidei”. Transcreverei agora algumas das afirmações do parágrafo 47 sobre “a unidade e a inteligência da fé”.

“Hoje parece bastante realista a união dos cristãos com base num compromisso comum: através da amizade, da partilha dos mesmos sucessos com os mesmos objetivos; mas sentimos ainda grande dificuldade em conceber uma unidade na mesma verdade. Parece-nos que uma união deste gênero estaria em oposição à liberdade de pensamento e à própria autonomia das pessoas. Pelo contrário, a experiência do amor diz-nos que é possível ter uma visão comum precisamente na experiência do amor. Assim, aprendemos a ver a realidade com os olhos do outro; e isso, longe de nos empobrecer, enriquece o nosso modo de ver as coisas. O verdadeiro amor, enquanto amor divino, exige a verdade e, na compreensão comum da verdade, que é Jesus Cristo, torna-se firme e profundo. Esta é também a alegria da fé: a unidade de uma visão num só corpo e num só espírito. Neste sentido, São Leão Magno pôde afirmar: “Se a fé não é una, não é fé”.

“Qual é o segredo desta unidade? 1) Em primeiro lugar, a fé é una pela Unidade de Deus, conhecida e professada. Todos os artigos de fé se referem a Ele; são caminhos que nos levam ao conhecimento do Seu ser e do Seu agir. Deste modo, possuem uma unidade superior a tudo o mais”. (LF #47). 2) Depois, a fé é una porque se dirige ao Único Senhor, à vida de Jesus, à história concreta que Ele partilha connosco. (#47) 3) Finalmente, a fé é una porque é partilhada por toda a Igreja, que é um só corpo e um só espírito: em comunhão com o único sujeito que é a Igreja. Por isso, recebemos uma visão comum. Confessando a mesma fé, apoiamo-nos no mesmo Espírito de amor. Assim, irradiaremos uma única luz, com uma única visão, para penetrar na realidade” (LF #47).

Todos os esforços de “A Verdadeira Vida em Deus” com o objetivo de cumprir a Oração Sacerdotal de Cristo: “Pai, que todos sejam um, como Nós somos um” (Jo 7), são agora afirmados pela primeira Encíclica do Papa Francisco “Lumen Fidei”.

+ João Evangelista Martins Terra, SJ

Bispo Auxiliar Emérito da Arquidiocese de Brasília-DF-Brasil Fone: + 55 61 3223.9452

Brasília, 24.08.2013.